domingo, 10 de abril de 2016

Teoria da Literatura I - AD1

Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ
Disciplina: Teoria da Literatura 1
Coordenador: José Luís Jobim
AD 1 - 2016/ 1

Aluno(a): MARCELO PAVESI LOPES
Polo: Itaperuna – RJ Matrícula: 15213120046
Nota: 10,0

1. Leia, a seguir, as frases que sintetizam opiniões sobre o que é literatura para
o senso comum:

1. Literatura são textos escritos com uma linguagem embelezada.

2. Literatura é tudo o que está escrito.

3. Literatura é um texto completo escrito com uma língua qualquer
(português, espanhol, inglês, francês etc.)

4. Literatura consiste em fazer arte com as palavras.

5. Literatura é a criação de novas possibilidades de uso da palavra.

6. Literatura é o conjunto de textos escritos para o autor comunicar com
suas palavras alguma coisa ao leitor.

Baseado no que você já tinha em sua cabeça e no que aprendeu nas duas primeiras
aulas, comente pelo menos duas das frases acima. Coloque o número da frase
comentada.

1. Número da frase: 1 - Comentário: Conceituar significa separar alguma coisa de um conjunto, devido a singularidades que esse objeto possui. Assim, é preciso em primeiro lugar, fazer escolhas de características componentes do observado. Quando o senso comum anexa ao conceito de literário ao particular e próprio de cada um conceito de beleza, não se presta a definir o que é literário. Mais confunde que explica. Beleza é uma eleição do que é agradável no campo do gosto e não gosto. Portanto, variável de ser humano para ser humano. Há quem goste de jiló, por exemplo. Conectar o conceito de belo ao da literatura, pode ser aceito no senso comum, mas na produção de um trabalho crítico, devemos estar atentos às nossas inclinações pessoais, de modo que as mesmas não venham a diminuir o trabalho de formação conceitual a respeito da literariedade de um determinado texto.

2. Número da frase: 2 - Comentário: Toda frase formada é produto da criatividade humana, através da capacidade da linguagem. Toda frase construída é como um projeto: única, tem princípio e fim determinados. Porém, não significa que toda frase seja literária. Se dissermos que tudo que está escrito é literário, estamos levando o conceito de literariedade a uma amplitude tal, que aproximaremos literatura (litteratura) e escrita (litterae = letras), fundindo dois parâmetros que se diferenciam pelo uso de ferramentas da língua para a produção textual, no qual desconsideraríamos a proeminência dos conceitos distintos de modelo (da utilidade das lições de um determinado texto) e de exemplo (quando na produção de um texto, são usados com maestria, os instrumentos disponíveis à construção da comunicação por escrito).


2. Considerando tudo o que você aprendeu na aula 3, diga quais foram os dois mais importantes aspectos sobre a relação entre literatura e linguagem, na sua opinião.
Justifique sua resposta.

Primeiro: O conceito de que na literatura prevalece a função poética da linguagem (segundo Jakobson), sendo que as outras funções aparecem, porém de forma subalterna, enquanto no uso cotidiano da linguagem estão presentes todas as funções, que são: referencial, emotiva, conativa, poética, fática e metalinguística. Ora, Jakobson atribuiu à função poética, diversas singularidades proeminentes: “campo onde descobriu e estudou os mais importantes princípios da linguística estrutural: a autonomia da linguagem, o caráter estrutural acentuado da linguagem (a interdependência do todo e das partes), o papel da percepção ou da orientação, a interdependência de som e sentido das estruturas prosódicas (métrica) e gramatical, os dois eixos da linguagem, a multiplicidade das funções linguísticas”, sendo assim uma das funções mais grandiosas da comunicação, conferindo à literatura, todas essas propriedades supracitadas, pela predominância que a função poética possui nos textos literários.

Segundo: A percepção de que, enquanto a linguagem de uso cotidiano se esgota no próprio e imediato pronunciamento, limitando-se à situação que exigiu o pronunciamento de determinada frase, a literatura consegue transpor de forma assimétrica o espaço e o tempo, com autor e leitor em lugares e momentos diferentes, perpetuando-se no tempo e no leitor, com a mensagem permanecendo na obra, permitindo a sua ação de forma contínua, nos diversos leitores que a reinterpretarão e comentarão. Isso confere ao texto literário um imenso poder, maior que o da linguagem de uso cotidiano.


3. Formule, em suas próprias palavras, um sentido para cada um dos termos abaixo:

FICÇÃO: É uma capacidade humana, exclusivamente humana, de espelhar o exterior que nos rodeia. Exercer o poder criador da ficção é emoldurar uma paisagem que tenha verossimilhança com o mundo real, uma versão em palavras da realidade que nos absorve. Baseados nessa realidade crua daquilo que entendemos ser, elaboramos um cozimento de paradigmas do que imaginamos que seja ou do que haveria possibilidade de ser. Assim, com esse clone algo impreciso do mundo, das pessoas e das coisas, poderíamos ter, por analogia, um melhor entendimento do representado, o universo exterior a nós, através do ficcional representante.

REALISMO: Foi um movimento cultural, do século XIX, que buscou aproximar o melhor possível a obra ficcional do mundo real, baseado num estilo de escrever que buscava descrever pormenores da realidade, de modo a gerar uma sensação de proximidade entre o ficcional e o mundo real. Baseado num conceito dúbio de que a linguagem seria diáfana, um véu translúcido como ponte para esse real. Essa visão utópica da poder criativo da linguagem literária é, atualmente, questionado com veemência, em virtude do fato explícito a respeito da impossibilidade da linguagem representar fielmente a lúdica e dinâmica transformação incessante do mundo em sua tempo-espacial dimensão de vir-a-ser, como se referia a esse fenômeno o filósofo Heráclito de Éfeso.

REFERÊNCIA: Pode ser entendido como um medidor do grau de realismo de um texto, pois trata-se da inserção no mundo da ficção de nomes de lugares e personagens, espécies da fauna e da flora, acontecimentos históricos ou de ampla repercussão social, objetos móveis e imóveis: todos pertencentes ao mundo real, de modo a criar uma intimidade entre as polaridades ficção/realidade, gerando uma sensação de realismo para o leitor do texto literário.


4. No ano de sua publicação em livro, as Memórias Póstumas de Brás Cubas receberam uma variedade de críticas. Houve, como seria de se esperar em relação a um autor que também escrevia regularmente em jornais e revistas, observações protocolares como a publicada na Gazetinha, em 12 de dezembro de 1881: “Recebemos e agradecemos um exemplar do notável romance de Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas, sobre o qual daremos qualquer dia destes um folhetim”. (GUIMARÃES, 2004, 346) Mas mesmo as observações protocolares às vezes incluíam uma certa interrogação relativa àquele texto, que aparentava ter, além do que se supunha ser mais familiar para a época, alguma coisa mais. Talvez seja por isso que, mesmo antes da publicação em livro, Raul Pompéia, na Revista Ilustrada, em abril de 1880, declara sobre o romance: “É ligeiro, alegre, espirituoso, é mesmo mais alguma cousa” (apud Guimarães, 2004, p. 345).
Capistrano de Abreu, em 1881, parece retomar a fala de Pompéia, considerando que há “alguma cousa” mais naquela obra, e questionando até mesmo o enquadramento das Memórias como romance: “As Memórias póstumas de Brás Cubas serão um romance? Em todo o caso são mais alguma cousa” (apud Guimarães, 2004, p. 347).
Tendo em vista as informações acima, escolha uma das afirmativas abaixo e faça um comentário sobre como esta afirmativa pode ser relacionada às informações acima:

a. A obra literária é privilegiada porque tem condição de manter-se tal qual era materialmente no passado, inscrevendo-se todavia no presente, o que não é possível para uma série de outras manifestações históricas.

b. No entanto, devemos estar atentos para o fato de que o sentido da obra não será o mesmo para os vários e sucessivos públicos leitores, de modo que, mesmo considerando que a obra materialmente pode ser a mesma, ela poderá significar coisas diferentes.

c. Nossa leitura hoje se dá em um momento, em que outras questões já foram formuladas, reflexões já foram feitas, opiniões já foram emitidas.

Escolhida: No entanto, devemos estar atentos para o fato de que o sentido da obra não será o mesmo para os vários e sucessivos públicos leitores, de modo que, mesmo considerando que a obra materialmente pode ser a mesma, ela poderá significar coisas diferentes.


Em 1881, o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” foi lançado, mas ainda não se sabia, e nem se poderia saber à época, e depois classificado como o marco inicial do Realismo no Brasil. Algumas frases no texto, relativas aos críticos imediatos e contemporâneos da obra, sugerem que eles inferiam que a mesma seria dotada de algo novo: “...é mesmo mais alguma cousa”, ou “há “alguma cousa” mais naquela obra”, ou ainda “serão um romance?”, mesmo sem saber definir que algo novo seria. Apesar desse aspecto da sensibilidade literário comum, devemos destacar que a mesma obra, no decorrer do tempo, além de sentido inicial, vai agregando julgamentos e considerações sobre si, à medida que os olhos de diversos tipos de leitores vão passando sobre o texto, e também, não menos importante, à medida que o tempo vai passando, a perspectiva permite uma análise diferente daquela do ano de seu lançamento, podendo hoje em dia, ser classificada como um marco inicial do movimento literário denominado Realismo, em terras brasileiras. A obra é a mesma, mas os instrumentos interpretativos variam entre os públicos leitores, premidos por questões culturais, psicológicas, sociais e históricas. Assim, as mesmas palavras de Machado de Assis assumem diversos significados, variando de acordo com aqueles que fazem despertar das palavras deitadas no texto, através da capacidade interpretativa que são possuidores (seria uma “hermenêutica literária”?), caminhos díspares e variados sentidos, muitas vezes divergentes ou apenas diferentes.

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