Fundação
Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de
Janeiro
Centro
de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade
Federal Fluminense
Curso
de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ
Disciplina:
LINGUÍSTICA II
AD
1 - 2016/ 1
Aluno(a):
Marcelo Pavesi Lopes
Matrícula:
15213120046
Polo:
Itaperuna - RJ
OBSERVAÇÃO:
ao
apresentar suas respostas, atenda explicitamente ao conteúdo que é
abordado na questão; cada pergunta tem o objetivo verificar sua
maneira de pensar sobre o problema apresentado e não pode ser
respondida com a mera transcrição de conceitos presentes em seu
material didático ou em qualquer outra fonte.
QUESTÃO
1
Defina
o conceito de língua que está sendo usado nos itens a e b
explique-os de acordo com a teoria gerativa. 3,0 pontos
a.
“Posso viajar para Portugal que consigo me comunicar muito bem. Na
verdade, demora um pouquinho até eu me adaptar a alguns sons, mas de
repente começo a entender tudo.”
b.
“É impressionante que meu filho, com menos de dois anos, já fale
tantas coisas, quase tudo! A filha da minha amiga tem a mesma idade e
não fala quase nada. Já disse pra ela que cada criança tem um
ritmo”.
A
Língua Portuguesa, bem como todas as línguas nativas da humanidade,
sob o ponto de vista do Gerativismo, encontra-se em duas dimensões
distintas, porém intercomunicantes: como uma habilidade cognitiva
inata na mente dos falantes dessa língua (dimensão subjetiva) e no
seio das sociedades (no caso da Língua Portuguesa, as comunidades
lusófonas) como um código linguístico compartilhado (dimensão
objetiva).
Noam
Chomsky, principal formulador da teoria gerativa, propôs a seguinte
nomenclatura: língua como faculdade cognitiva chamou de Língua-I e
à língua como código compartilhado, Língua-E.
A
justificativa para o uso do termo Língua-I é que ela é Interna,
Individual e Intensional (algo interno e próprio a um dado
significado). Para a Língua-E, trata-se do fato da mesma ser
Extensional (por extensão aos objetos a que os significados se
referem).
Na
questão proposta, a letra “a” explicita as características da
Língua-E, ou seja, pois o código compartilhado naquela comunidade
tem similaridades muitas com o código do Brasil, uma vez que uma
língua, a brasileira, como que descende da outra, a língua mãe
portuguesa. A dificuldade inicial para entender a língua portuguesa
deve-se às poucas dessemelhanças de uso de palavras típicas ou de
prosódia, quando se compara as duas Línguas-E supracitadas.
Por
outra lado, na letra “b”, temos uma criança começando a
formatar o seu módulo da linguagem interno à mente, sua Língua-I,
fato que ocorre na mais tenra idade, notando-se que isso ocorre de
forma individual, pois cada um tem o seu ritmo.
QUESTÃO
2
Qual
a importância da língua E para um gerativista? 2,0 pontos
A
inserção da cognição humana como elemento fundamental no processo
de comunicação se deve ao advento da Teoria Gerativista. Ou seja,
poderíamos pensar que somente a Língua-I seria do interesse daquele
ramo da Linguística, por ser a dimensão interna da linguagem,
individualizada na mente humana.
Porém,
a Língua-E, que não é um monolito indivisível, mas dotada de
nuances características e singulares que devem ser esmiuçadas pelo
Linguista sob o viés do Gerativismo.
A
Língua-E, esse código linguístico, cujo léxico é compartilhado
pelos membros de determinada comunidade, é composto de palavras
representantes dos mais diversos objetos concretos e abstrados
componentes do mundo na qual essa coletividade está inserida.
Assim,
devem ser estudados, na Língua-E: os sons das palavras (fonemas e
fones), as classificações morfológicas e sintáticas presentes
nesse léxico (classes de palavras, gêneros gramaticais, tempo e
modos verbais), os usos e costumes da
língua convencionados e aceitos, tais como as expressões mais
utilizadas, ou as que caíram em desuso, entre outros aspectos.
Resumindo, os componentes principais
seriam: fonemas, morfemas, palavras, sintagmas, frases e discursos.
Estuda,
ainda, como o módulo mental da linguagem nos humanos pode absorver
essas diferentes singularidades codificadas
no léxico, para poder produzir entender e formular uma forma de
expressão comunicativa de uso pragmático da linguagem no dia a dia.
Então,
podemos afirmar que a Língua-E tem muita relevância para o estudo
da Linguagem, pelos princípios gerativistas, pois são duas as
dimensões a serem estudadas: a subjetiva (Língua-I) e a objetiva
(Língua-E).
QUESTÃO
3
Quando
escutamos a palavra “cabeça‟, temos muitas informações sobre
ela.
Identifique
as competências linguísticas responsáveis pelas habilidades
descritas e relacione essas competências com a modularidade da
linguagem. 2,0 pontos:
Um
dos conceitos basilares das ciências cognitivas é o princípio de
Modularidade da Mente Humana, segundo o qual a mente não seria um
todo indivisível, não seria uma ferramenta única de várias
possibilidades de utilização, mas dotada de módulos
especializados, porém inter-relacionados, para a execução de
atividades específicas.
Dentre
esses módulos, que poderiam ser fracionados em submódulos, temos o
denominado Módulo da Linguagem. Abaixo,
correlacionaremos cada assertiva ao submódulo da Linguagem que a
representa:
a.
Sabemos que podemos criar cabeçudo, cabeção, encabeçar etc;
A
criação de palavras novas através da manipulação de morfemas,
que são constituintes internos
das
palavras com presença de significado (como
o caso das variações supracitadas, em torno da palavra “cabeça”),
é
presidida pelo Módulo
Morfológico,
com a competência para criar e compreender novas palavras.
b.
Sabemos que podemos formar expressões como “o cabeça do time‟,
usar como sujeito ou objeto de uma sentença;
Com
complexidade e dinamismo ímpares, o Módulo Sintático
permite que construamos e interpretemos frases e sintagmas os mais
diversos e inumeráveis, sendo uma das características mais
relevantes da Linguagem Humana. A função de um sintagma é
identificada por esse módulo, então: determinar o sujeito ou objeto
de uma sentença é habilidade desse submódulo da Linguagem, bem
como, a construção de expressões usando esses componentes básicos
também.
c.
Sabemos que quando alguém diz que “encabeçou um movimento‟ não
significa colocar a cabeça literalmente na ação, mas quer dizer
que a pessoa liderou, estava à frente do movimento.
As
mais diversas expressões linguísticas (palavras, sintagmas e
frases) como “encabeçou um movimento” são geradas e
identificadas pelo Módulo Semântico. Sabemos o significado
das expressões construídas na língua, devido à atuação desse
módulo da linguagem. A construção dessa expressão analisada e a
sua identificação verdadeira dá-se pelo Módulo Semântico.
d.
Sabemos que em algumas situações discursivas “cabeçudo‟ pode
significar “aquele que tem a cabeça grande‟, mas em outras pode
significar “pessoa inteligente‟.
Analisarei
esta questão, com uma amplitude maior do que as anteriores, buscando
formular uma atuação conjunta dos módulos mentais da linguagem, o
que seria o contexto mais próximo da realidade da mente.
A
riqueza do conceito modular da mente humana não se limita nisso.
Ainda, há uma característica maravilhosa, que é a possibilidade de
integração entre esses módulos, fazendo com que haja uma ação
conjunta entre eles, como nesse caso, elevando à enésima potência
a utilização da mente humana, através da combinação entre os
módulos e submódulos. Observe o caso exposto.
O
armazenamento e recuperação das palavras é característica do
Módulo Lexical. Ele é um dos mais importantes para o estudo
gerativista da Linguagem, está em formação na infância e, na
idade adulta, permite-nos emitir e reconhecer itens lexicais, além
da pronúncia e do contexto de uso. No exemplo acima, o significado e
o contexto de uso do item lexical “cabeçudo” só é devidamente
resgatado pela ação desse módulo em nossa mente. Nele está
armazenado a palavra “cabeçudo” e suas características
principais. Porém, como os submódulos da Linguagem não são
estanques, mas se relacionam e auxiliam, poderíamos citar o Módulo
Pragmático, que trabalha voltado para o contexto prático, cuja
atuação nesse caso se revela imprescindível. Além disso,
poderíamos acrescentar, para sabermos o significado, dentro dos
limites linguísticos, uma pitada de Módulo Semântico, que
nos permitiria identificar todas as definições de sentido da
palavra em voga.
A
palavra “cabeçudo” foi expressa em uma situação discursiva,
devemos imediatamente identificar, situar e contextualizar na mesma,
através de fatores extralinguísticos presentes no ato comunicativo,
a intenção comunicativa. No caso exposto, somente esses fatores
permitirão, após resgatarmos as definições possíveis de
“cabeçudo” pelo Módulo Lexical, selecionarmos, pela
identificação das nuances extralinguísticas envolvidas, que não
estão inseridas na frase citata, mas pululam no contexto
comunicacional, usando o Módulo Pragmático a situação
presente no contexto comunicacional: se a picardia depreciativa de
rotularmos uma pessoa como “aquele que tem a cabeça grande”; ou
a admiração informal por nos depararmos com uma “pessoa
inteligente”.
Ressalto,
por fim, que nesse caso específico, pela presença de situações
extralinguísticas, apesar da utilização de outros módulos, o
mais proeminente ator, o decisivo para a eficiente ação
comunicacional seria o Módulo Pragmático.
QUESTÃO
4
“Meu
filho tem um ano e seis meses e é incrível como ele já produz
coisas surpreendentes. Às vezes, me pergunto onde ele aprendeu. Além
de saber muitas palavras e as usar adequadamente, ele emprega
perfeitamente os verbos, objetos e sujeitos nas sentenças. Eu não
ensinei isso a ele, nem sei se alguém ensina isso às crianças. Ele
já sabe até usar o plural nos nomes, e repete o processo em
palavras novas!”
Relacione esse depoimento com
o argumento da pobreza de estímulo. 2,0 pontos
“Eu
nem ensinei isso a ele, nem sei se alguém ensina isso às crianças”
e “repete o processo em palavras novas” são os trechos que
destaco no texto acima, para fazermos a reflexão que segue.
O
filósofo galês Bertrand Russel interpretou magistralmente as
palavras de Platão a respeito da incrível capacidade humana de
adquirir e armazenar conhecimentos e habilidades, diante da brevidade
do processo existencial da vida.
Se
parafrasearmos Platão poderíamos, em nosso campo de estudo
linguístico, usar a mesma perplexidade para a surpreendente
capacidade que os humanos, mormente na fase infantil, têm de
aprender todos os aspectos necessários para o uso correto de uma
língua, advindos do meio social no qual estão inseridos.
É de
fundamental importância, que à diferença de um sistema de
computação, venhamos a evoluir em nossos conhecimentos como um moto
contínuo, pois temos uma inata capacidade de aprender, e até de
aprender a aprender, reformulando as estratégias de aprendizagem.
Mas, a
simples imersão na comunidade, em presença de processos
comunicativos por mimetismo ou instrução orientada (a mãe acima
questiona: “nem sei se isso alguém ensina isso às crianças”),
é insuficiente para esclarecer a aquisição tão rápida de
competência linguística por parte do seres humanos, segundo o
afamado gerativista Noam Chomsky.
Contrapondo
aos Sofistas e sua teoria limitada da “tabula rasa”, que afirma
sermos como uma folha em branco ao nascimento, e com os estímulos
promovidos pelo contato com os outros falantes em nossa sociedade,
venhamos a adquirir a competência comunicativa através da língua,
Chomsky afirma ser finita a profusão de estímulos externos
recebidos, enquanto a capacidade de produzir frases e discursos, após
determinado tempo, é inumerável. É o mesmo que, por outras
palavras, a surpreendida mãe afirma no trecho: “repete o processo
em palavras novas”.
A
criança não é um mero papagaio repetidor do que aprendeu
mecanicamente, mas usa a criatividade para produzir um discurso único
e exclusivo. Para Chomski é impossível criar uma competência
linguística com capacidade infinita de produzir comunicação,
apenas com o recebimento de finitos estímulos. Ou seja, a mãe intui
que há um mecanismo entre o que a criança recebe de informação e
o que ela consegue fazer com sua faculdade da linguagem que, como um
filtro transformador, mude de finito para infinito, o processo
comunicacional na mente humana.
Ainda,
o grande formulador da teoria Gerativa afirma não ser possível que
apenas os estímulos externos, limitados que são por não possuírem
notadamente todas as informações necessárias, produzirem esse
caleidoscópio complexo e multifacetado da linguagem humana, em sua
capacidade criativa e renovável de produzir discursos inéditos. O
argumento da pobreza de estímulo preconiza ser por causa da inata
“máquina de aprender” que a criança possui, a possibilidade de
acontecer essa “mágica” que surpreendeu a mãe no contexto
supracitado. Essa “máquina” pode ser traduzida como uma
capacidade de selecionar a relevância das informações recebidas e
uma sabedoria ao utilizá-las devidamente, quando as crianças vão,
paulatinamente, descortinando o mundo.
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