Professores Ivo da Costa do Rosário e Mariangela Rios de Oliveira
1) Predicado: Função e Forma
Em consonância com a descrição tradicional, encontramos as duas definições de predicado exemplificadas a seguir:
a) Cunha e Cintra (1985, p. 119): “...o PREDICADO é tudo aquilo que se diz do SUJEITO.”
b) Kury (1986, p. 20-21): “PREDICADO é, na oração de um só termo (oração sem sujeito), a enunciação pura de um fato qualquer (...) na oração de dois termos, é aquilo que se diz do sujeito.”
c) Luft (1987, p. 23): “O mais importante dos dois, núcleo da oração, é o predicado: há orações sem sujeito (com verbos impessoais), mas não as há sem predicado.”
d) Bechara (1999, p. 408): “...nem mesmo o sujeito é um constituinte imprescindível da oração...”
e) Azeredo (1995, p. 46): “O único constituinte indispensável à existência de uma oração é o predicado.”
Orações sem sujeito representam um dos argumentos para estudiosos que, ao contrário da tradição gramatical, destacam o predicado como o efetivo termo “essencial”, imprescindível à constituição da oração (b/c/d/e). O sujeito oculto também propõe um questionamento sobre o sujeito ser imprescindível à oração.
Em c/d/e, observa-se o destaque para a essencialidade do predicado. Embora levando em conta a ressalva de Bechara (1999, p. 408), de que a presença do sujeito ao lado do verbo pessoal “constitua o tipo mais frequente – diríamos até a estrutura favorita – de oração em português”, esses autores chamam a atenção para a importância do sintagma verbal (SV) como único efetivamente necessário à organização oracional.
2) Predicado: Tipos e Exemplos
São de três tipos:
a) Predicado Verbal
Tipo mais comum, segundo Cunha e Cintra (1985, p. 132), “o predicado verbal tem como núcleo, isto é, como elemento principal da declaração que se faz do sujeito, um VERBO SIGNIFICATIVO”. Ou, de acordo com Lima (1987, p. 208), o predicado verbal “exprime um fato, um acontecimento, ou uma ação, tem por núcleo um verbo, acompanhado, ou não, de outros elementos”. Em ambas as definições, destaca-se o preenchimento semântico do predicado verbal, em torno de um constituinte principal – o verbo, que expressa conteúdo pleno, com complementos verbais ou não.
Por exemplo: A mulher tratou do negócio sozinha.
b) Predicado Nominal
Esse tipo de predicado tem por núcleo, ou termo principal, um nome, que pode ser representado por substantivo, adjetivo ou pronome. O núcleo do predicado nominal classifica-se sintaticamente como predicativo. Por outro lado, o verbo, no predicado nominal, é chamado de ligação, uma vez que seu papel maior é o de conectar o sujeito e o predicativo, estabelecendo entre ambos a concordância número-pessoal devida, além de informar sobre o tempo e o modo da declaração.
Por exemplo: Mauro era um homem bonito. Alto, atlético, moreno. Mas era bobo. Era extremamente bobo.
Conforme Cunha e Cintra (1985, p. 129-130), o verbo de ligação, também chamado “copulativo”, pode expressar, portanto, noções como: estado permanente (verbo “ser”, em 15); estado transitório (verbo “estar” em 19); mudança de estado (verbo “ficar” em 17); continuidade de estado (verbo “continuar” em 18) ou aparência de estado (verbo “parecer” em 16). Assim, podemos considerar que o conteúdo básico do verbo de ligação é a manifestação de “estado”, e não ação ou processo, como os sentidos mais comuns dos verbos. Tal constatação nos permite dizer que, no predicado nominal, o verbo afasta-se dos traços mais típicos da classe dos verbos, já que não é núcleo do predicado e veicula sentido mais abstrato.
PREDICADO NOMINAL (A) PREDICADO VERBAL (B)
(20) Andávamos muito doentes. (21) Andávamos pelas ruas desertas.
(22) Fiquei feliz com a notícia.m (23) Fiquei aqui sentado durante horas.
(24) Quem está satisfeito? (25) Quem está nos esperando?
(26) Continuas otimista! (27) Continuas na mesma cidade?
Obs.: Nas orações listadas em (A), os verbos andar, ficar, estar e continuar atuam na expressão de estados, fazendo a ligação entre o sujeito e seu atributo, informando sobre o tempo e o modo da declaração e concordando em número e pessoa com o sujeito. Nessas orações, os nomes adjetivos doentes, feliz, satisfeito e otimista funcionam como núcleo do predicado nominal, ou predicativo. Nas orações da coluna (B), os mesmos verbos, porém em contextos sintático-semânticos distintos, compõem predicado verbal, atuando como núcleo desse predicado e trazendo novos informes ao comentário. Em tais contextos, esses verbos podem expressar ação ou movimento, como em (21), ou referência espacial mais concreta, como (23), (25) e (27).
c) Predicado Verbo-nominal
O predicado verbo-nominal, também é chamado por alguns autores de “misto” (LIMA, 1987, p. 208; CUNHA; CINTRA, 1985, p. 134). O predicado verbo-nominal tem dois núcleos, representativos da combinação de que é resultante – um verbo significativo, próprio do predicado verbal, e um nome na função de predicativo, característico do predicado nominal.
Em (28) e (29), encontram-se destacados os dois núcleos mencionados – o verbal e nominal. Os verbos são significativos, na articulação de sentido pleno (riu e chegaram), e o predicativo em ambas as orações (despreocupado e atrasados) relaciona-se ao sujeito respectivo (Mauro e os alunos).
Há uma outra possibilidade de organização do predicado verbo-nominal, ainda mais complexa e de pouco uso na língua, em que o predicativo qualifica o complemento do verbo significativo, e não o sujeito.
Nas orações (30) e (31), os termos predicativos vereador e bobo não qualificam o sujeito, mas sim o complemento.
São variadas as possibilidades de formação do predicado verbo-nominal, devido à sua construção híbrida, na combinação de dois outros predicados. Vejamos alguns modelos:
(32) Mauro foi chamado de bobo.
(33) Carlos voltou ao Brasil como embaixador.
(34) A população lhe chamava corrupto.
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