domingo, 10 de abril de 2016

Linguística II - Resumo da Aula 6: A Arquitetura da Linguagem

Professores Eduardo Kenedy e Ricardo Lima

  1. Introdução

O objetivo fundamental da linguística como ciência cognitiva é: observar, descrever e explicar a estrutura e o funcionamento da linguagem no interior da mente humana.
Estudar a arquitetura da linguagem é descobrir quais são as partes constitutivas das línguas naturais, como essas partes interagem entre si e de que forma elas se relacionam com os outros componentes de nossa cognição. Ou seja, estudar a estrutura (competência = anatomia) e o funcionamento (desempenho = fisiologia) da linguagem.


  1. Linguagem: Som e Significado

A característica fundamental da linguagem humana é a sua capacidade de fazer associação sistemática entre um determinado som e um dado significado. Para Aristóteles, a linguagem definia-se como a arte de unir “som” e “significado”, bem como a díade “som e significado” seria a pedra fundamental da teoria do signo linguístico, de Ferdinand de Saussure (1857-1913): “a linguagem constitui-se como um sistema de signos, no qual cada signo seria caracterizado pela união indissociável entre um dado significante (som) e certo significado.
Para Chomsky, deve haver uma inversão no conceito. a principal função linguística é carrear signifiação – e o uso de sons para esse propósito é somente uma das diversas formas de veiculação do significado, ou seja, as línguas naturais são um sistema capaz de produzir associações entre determinada forma e certo conteúdo.
A linguagem é um sistema organizado segundo princípios e regras que geram expressões linguísticas de maneira ordenada e previsível, que dão-se através da associação entre uma dada forma e certo conteúdo. A forma de uma expressão linguística é tipicamente uma cadeia sonora, um “som”. Porém, devemos ter em conta que essa forma pode ser também gestos visuais, como acontece com as línguas de sinais usadas por pessoas surdas. Por seu turno, o conteúdo das expressões linguísticas é sempre o seu valor informativo, o juízo de verdade ou o “significado” do que dizemos.
Por forma (som), devemos entender uma representação fonética, que resumiremos com o símbolo π (pronuncia-se pi). Por conteúdo (significado), devemos entender uma representação lógica, sumarizada por λ (pronuncia-se lambda). O par (π, λ) corresponde à díade som e significado, conforme ilustrado na figura a seguir.








Quando analisamos uma palavra qualquer do português como, por exemplo, casa, percebemos que ela possui uma substância fonética [kaza] e um valor lógico [tipo de moradia], porém as expressões do par (π, λ) não se limitam à expressão de itens lexicais (palavras).
Elas podem veicular também unidades inferiores à palavra, como os morfemas, ou unidades superiores, como os sintagmas e as frases. Assim, quando ouvimos um item como meninas, reconhecemos nele três morfemas, isto é, três relações entre som e significado que se estabelecem dentro da palavra: 1º [menin] = [criança], 2º [a] = [gênero feminino] e 3º [s] = [número plural]. Já quando lidamos com uma frase completa, atribuímos-lhe um significado global, ou seja, fazemos uma representação λ final. Tal significado é veiculado pelos sons que, em conjunto, constituem a representação π da frase. Por exemplo, em Maria ama João, π corresponde, grosso modo, à sequencia fonética [maria ama joaum], ao mesmo tempo em que λ veicula a interpretação lógica evocada por esse π específico, algo como [há um indivíduo X, tal que X é Maria, e X ama um indivíduo Y, tal que Y é João].
Dizendo de outra forma, devemos entender que a linguagem é um sistema capaz de gerar o par (π, λ), em que π é uma forma fonética de qualquer extensão (desde o fonema até a frase) associada a um dado que é um valor significativo de qualquer grandeza (morfemas, palavras, sintagmas, frases). Essa é a caracterização mais básica da arquitetura da linguagem humana.


  1. Os Sistemas de Interface

A linguagem é um poderoso instrumento de comunicação, mas não é a comunicação propriamente dita. Sendo assim, muitos cientistas cognitivos concordam em dizer que a nossa linguagem produz representações de som e signifi , mas são outros sistemas cognitivos (como nossas intenções, crenças e desejos, os aparelhos fonador e auditivo etc.) que motivam essas representações e as põem em uso, inclusive para a comunicação.
Nele, também encontramos dois polos, ambos interiores à mente humana. O primeiro é o da produção das representações do par (π, λ), que é de responsabilidade da linguagem. A linguagem funciona como uma fábrica que deposita nas representações do par (π, λ) tudo o que é necessário e suficiente para os diversos usos que delas podem ser feitos, inclusive a comunicação. O segundo polo é o do acesso e uso dessas representações, algo de responsabilidade de outros sistemas cognitivos. Esses sistemas funcionam como usuários das representações da linguagem, que as põem em uso para diversos propósitos.
Os sistemas cognitivos que acessam e fazem uso das representações do par (, ) são denominados SISTEMAS DE INTERFACE, sistemas de desempenho ou sistemas superiores. Na arquitetura da cognição humana, esses sistemas desempenham a função de receber o produto (output) da linguagem e transformá-lo em dado entrada (input) para outros módulos da mente – os módulos de interface.
Os sistemas de interface são, na verdade, um conjunto de faculdades cognitivas. Elas encontram-se interligadas de tal maneira que se torna possível agrupá-las, para fins descritivos didáticos, em somente dois sistemas:

(1º) o sistema de pensamento e

(2º) o sistema sensório-motor.

Podemos, também classificá-los em:

  1. Sistema de Pensamento ou Sistema Conceitual-Intencional

A realidade do pensar não estruturado em palavras ou frases – evidencia que o pensamento é um sistema externo à linguagem e dela é relativamente independente. Mas é claro que, normalmente, organizamos os nossos pensamentos através da linguagem. Usamos palavras para representar conceitos e combinamos essas palavras em frases complexas, fazendo com que conceitos complexos sejam manipulados na estrutura das frases. A linguagem é, portanto, um sistema que fornece ao pensamento expressões com as quais ele possa se organizar. Isso significa que, na estrutura da mente humana, a linguagem funciona como uma espécie de centro de logística, o qual provê o pensamento de instrumentos para a manipulação de conceitos.
Dizendo de outra maneira, a linguagem humana é um sistema capaz de produzir representações  que atendam às necessidades de outro sistema, um sistema externo – o sistema de pensamento. Esse sistema de pensamento, também chamado CONCEITUAL-INTENCIONAL (diz respeito ao pensamento humano, isto é, refere-se a nossas crenças, desejos, conceitos e intencionalidades, a nosso raciocínio e a nossas motivações comunicativas.), é, portanto, uma das interfaces da linguagem.

  1. Sistema Sensório-Motor ou Sistema Articulatório-Perceptual

Analisemos, agora, as relações de interface entre linguagem e sistema sensório-motor. Imagine que queiramos expressar nossos pensamentos às outras pessoas. Com esse objetivo, apenas codificar ideias numa representação não será o sufi ciente, afinal essa representação não é capaz de propagar-se sozinha de uma mente para outra entre os humanos. Será necessário, então, criar um meio de exteriorização que faça chegar à percepção dos outros indivíduos. Esse meio de exteriorização será a representação . é, dessa maneira, a contraparte sonora do conteúdo de . Na estrutura cognitiva humana, as informações contidas em serão acessadas pelo sistema sensório-motor. Tal sistema tem a função de converter nos sons que conduzirão, pelo ar, as estruturas que veiculam , numa viagem que vai do aparelho articulador do falante até o sistema perceptivo do ouvinte. O sistema sensório-motor, também denominado ARTICULATÓRIO-PERCEPTUAL (diz
respeito ao conjunto das funções cognitivas responsáveis pelo controle da produção e da recepção das unidades linguísticas, seja na articulação e percepção de sons, seja na produção e na recepção de sinais visuais), é, por conseguinte, outra interface do módulo da linguagem. Sua função, na mente humana, é claramente exterior à linguagem: cabe a ele controlar o aparato físico humano responsável pela produção e percepção de sons.










Por exemplo: recorreramos à frase simples Maria ama João. Depois de produzida, essa frase possuirá a forma , que é o conjunto de instruções que a linguagem passa ao sistema articulatório-perceptual de tal modo que a cadeia fonética [maria ama joaum] possa ser produzida pelo nosso aparelho fonador, propagada pelo ar e percebida pelo sistema auditivo de nossos interlocutores. A frase possuirá também o conteúdo , que contém a informação lógica [há um indivíduo X, tal que X é Maria, e X ama um indivíduo Y, tal que Y é João], a qual será acessada pelo sistema conceitual-intencional e desencadeará o processo de interpretação semântica.
Os estudiosos da linguagem devem sempre ter em conta que o sentido final de uma expressão, isto é, o seu valor pragmático-discursivo, é o resultado da interação de todos os módulos cognitivos ativados na performance linguística.



  1. Princípio da Interpretação Plena

A linguagem é um sistema cognitivo específico, que não é independente dos sistemas cognitivos que acessam e usam as informações produzidas pela linguagem, também específicos na mente humana: o sistema de pensamento e o sistema sensório-motor.
As expressões que a linguagem constrói só são úteis na medida em que possam ser usadas pelos sistemas de interface. A única razão de ser da linguagem humana é poder servir às suas interfaces. Sua missão exclusiva é construir representações que possam ser manipuladas por nossos sistemas de pensamento e sensório-motor, interfaces que exercem bastante controle sobre a linguagem.
Os produtos que a linguagem deve entregar às suas interfaces são, por assim dizer, feitos sob encomenda, na justa medida. Tecnicamente, os gerativistas afirmam que a linguagem produz as representações do par (, ) sob as imposições do Princípio da Interpretação Plena (em inglês, Full Interpretation – às vezes chamado apenas de FI), que deve ser entendido como o conjunto das restrições cognitivas que os sistemas de interfaces impõem ao funcionamento da linguagem humana. Basicamente, ele determina que as representações produzidas pela linguagem devem ser totalmente interpretáveis em suas respectivas interfaces. Isto quer dizer que, para satisfazer FI, a linguagem humana deve construir representações de uma maneira tal que (1º) o sistema sensório-motor possa reconhecer e pôr em uso todas as informações inscritas em e (2º) o sistema de pensamento possa acessar e usar todas as informações presentes em . O Princípio da Interpretação Plena estabelece, portanto, que uma representação linguística qualquer deve sempre ser concomitantemente legível nas interfaces fonética e lógica.
A criação do par (, ) sempre é regida por regras. Mas de onde advêm essas regras? A resposta é: das interfaces! As regras que orientam a formação de representações linguísticas são impostas pelos sistemas conceitual-intencional e articulatório-perceptual. Seria como se, ao entregar uma representação para as interfaces, a linguagem recebesse dois vereditos, um do sistema de pensamento e outro do sistema sensório motor. Ambos os vereditos têm de ser favoráveis, isto é, os sistemas de interface devem sempre considerar as representações de (, ) “interpretáveis”, “legíveis”, “processáveis”.
Quando o sistema de pensamento consegue acessar e usar as informações de e, ao mesmo tempo, o sistema sensório motor consegue acessar e usar as informações de , dizemos que as representações do par (, ) são interpretáveis nas interfaces, isto é, dizemos que as representações são legíveis ou CONVERGENTES (“bem construídas” ou gramaticais”). Se uma representação é convergente, então ela foi gerada de acordo com o Princípio da Interpretação Plena.


  1. Os Componentes da Linguagem

Sabemos que o par (, ) são representações mentais construídas pela linguagem humana. As representações linguísticas são criadas passo a passo, num processo complexo que denominamos DERIVAÇÃO. que é o processo computacional
por meio do qual a linguagem humana constrói as representações que serão enviadas para as interfaces. Ela começa com a seleção das palavras que devem compor uma frase, passa pela combinação de palavras em sintagmas e orações, e chega até as especificações fonéticas e lógicas do par (, ).
Podemos dizer que a linguagem humana é uma espécie de fábrica de representações (, ). Seus componentes são como setores dispostos ao longo de uma esteira de montagem.
São apenas quatro: Léxico, Sistema Computacional, Forma Fonética (FF) e Forma Lógica (FL).


  1. Léxico

A importância do Léxico no funcionamento da linguagem é crucial, pois é nele que se encontram armazenadas todas as informações de som e de significadoque devem ser combinadas durante uma derivação, de modo a gerar representações complexas no par (, ). O Léxico é, portanto, o início de nossa linha de produção.

  1. Sintaxe ou Sistema Computacional

Seu papel no funcionamento da linguagem é combinar as informações retiradas do Léxico de modo a gerar expressões de som e significado complexas, tais como sintagmas e frases. Podemos dizer que o Sistema Computacional é o componente central na arquitetura da linguagem humana. Retira informações do Léxico para construir as representações linguísticas que serão enviadas a FF e LF, e de lá seguirão para as interfaces. É da Sintaxe que emerge o caráter produtivo das línguas naturais. O número de combinações que esse componente pode criar recursivamente a partir das informações do Léxico é potencialmente infinito. Em nossa linha de produção linguística, o Sistema Computacional posiciona-se imediatamente após o Léxico.

  1. Forma Fonética (FF)

É o componente responsável pela conversão sonora das expressões geradas pela Sintaxe. De outra forma, componente da linguagem que converte as representações advindas da Sintaxe em informações articulatórias e acústicas a serem enviadas para a interface sensório-motora.

  1. Forma Lógica (LF)

É o componente responsável pelo tratamento das relações conceituais das expressões construídas pelo Sistema Computacional. De outra forma, componente da linguagem que converte as representações advindas da Sintaxe em informações lógicas a serem enviadas para a interface conceitual-intencional.














Fisiologia” do Processo de Linguagem em Derivação Simplificada:

1) Digamos que os itens {Maria, amar, João} sejam retirados do Léxico e enviados para o Sistema Computacional,
2) Uma vez introduzidos numa derivação,
3) esses itens sofrerão uma série de operações computacionais até que a representação a ser enviada para as interfaces seja gerada.

Por exemplo:
1) o Sistema Computacional combinará os itens [amar + João] para gerar o predicado “amar João”.
2) Com esse predicado construído, o Sistema o combinará com o sujeito “Maria”, gerando a estrutura [[Maria] + [amar +João]].
3)Por fi m, o Sistema fará a concordância entre o sujeito e verbo, especificando o tempo, o modo e o aspecto da frase, de modo que a representação sintática final estará pronta: [Maria ama João].
4) Essa representação será, então, enviada para FF, que elaborará a forma fonética [maria ama joaum] a ser entregue à interface sensório-motora,
5) e também para FL, que construirá a forma lógica [há um indivíduo X, tal que X é Maria, e X ama um indivíduo Y, tal que Y é João] a ser enviada à interface conceitual-intencional.

Ou seja:




  1. Léxico

A relação direta entre Léxico e FF/FL só acontece quando nos comunicamos por meio de palavras isoladas, não concatenadas com outras em estruturas sintáticas elaboradas.
O natural nas línguas é que as palavras apareçam articuladas entre si em estruturas frasais complexas, algo que é levado a cabo pelo Sistema Computacional da linguagem humana. Portanto, é raro que o Léxico alimente diretamente FF e LF. Com efeito, o Léxico é componente inicial de nosso fábrica de representações (, ).
Sua função principal é prover a Sintaxe de itens lexicais com os quais possa gerar sintagmas e frases a partir das operações computacionais de uma derivação. São os produtos da Sintaxe, isto é, os sintagmas e as frases, que devem ser enviados a FF e LF.

Na arquitetura da linguagem, o Léxico deve ser interpretado como o repositório de informações linguísticas que dão origem às representações (, ). Essas informações são tecnicamente chamadas de traços. Tais traços são idiossincráticos e, por isso mesmo, podem variar arbitrariamente de língua para língua, dando origem à diversidade linguística existente no mundo. São três os tipos de traços existentes no Léxico: semânticos, fonológicos e formais.
Os traços semânticos dizem respeito ao conteúdo dos itens lexicais, seu significado, enquanto os traços fonológicos referem-se à substância sonora desses itens, sua pronúncia. Tipicamente, traços semânticos e fonológicos são codifi cados e expressos no corpo de um item lexical, como, por exemplo, o conteúdo [tipo de moradia] e a pronúncia [kaza] presentes numa palavra como casa.
Os traços formais, no entanto, são mais abstratos e não se realizam visivelmente numa palavra isolada. Esses traços dizem respeito a informações que serão acessadas pelo Sistema Computacional e repercutirão na estruturação da frase.
O Léxico não contém somente palavras. Ele possui especificações de som e significado de morfemas em geral (como “-s” do plural de nomes, “-mos” da primeira pessoa do plural verbal etc.) e também de expressões idiomáticas (como “chutar o balde”, “pagar mico” etc.) e frases feitas (como “vale mais a pena um pássaro na mão do que dois voando...” etc.).


  1. Sintaxe ou Sistema Computacional

A linguagem só é comparável a uma fábrica qualquer no que diz respeito à sua estrutura organizada em setores especializados ao longo de uma linha de montagem – e é apenas nesse sentido que a comparação é útil. Com efeito, os produtos de uma fábrica são sempre os mesmos objetos inanimados, mas os produtos da linguagem são infinitamente diversos e cheios de vida. Pense bem: o número de representações num par (, ) que podemos criar e interpretar é infinito.
Se a linguagem conta com recursos finitos e limitados, como é que ela consegue produzir representações infinitas e ilimitadas? O componente linguístico que dá à luz essa capacidade infinita é o Sistema Computacional da linguagem humana. É justamente essa capacidade combinatória da Sintaxe que faz emergir na linguagem a infinitude discreta, sua propriedade fundamental.
A Sintaxe humana é capaz de aplicar operações combinatórias sobre itens lexicais de maneira recursiva, de tal modo que o resultado da combinação entre esses itens são sempre representações infinitamente novas, inéditas. Conforme já aprendemos nesta aula, o conjunto dessas operações é o que conhecemos como derivação. Por sua vez, o produto final de uma derivação é o que chamamos representação.

Operações da Sintaxe:

  • Selecionar(no inglês, SELECT) é a operação que retira um item lexical (como conjunto de traços) da Numeração e o introduz no espaço derivacional. Um espaço derivacional é o conjunto de itens que estão ativos durante a derivação e podem ser acessados pelas operações computacionais do Sistema. É a primeira e mais básica operação do Sistema Computacional. Retira do Léxico (na verdade, de um subgrupo do Léxico, chamado Numeração, que estudaremos nas próximas aulas) os itens que participarão da derivação. Uma vez selecionados para o espaço derivacional, esses itens lexicais se tornam acessíveis às outras operações do Sistema.





  • Merge - É o termo inglês que significa “fusão”, “concatenação”, “combinação”. Tem como finalidade criar representações linguísticas complexas, afinal, como já sabemos, a linguagem humana raramente funciona por meio de palavras isoladas, preferindo sempre que possível expressões compostas. É a operação computacional criadora de objetos sintáticos complexos (como sintagmas, orações e frases), capaz de combinar dois objetos e deles gerar um objeto complexo.
    Por exemplo: os itens [amar] e [João] já tenham sido selecionados para espaço derivacional. O que MERGE deve fazer, então, é combinar esses dois constituintes, formando um terceiro: o predicado [amar + Maria].





MERGE pode ser aplicado também sobre objetos complexos, já anteriormente criados pela própria operação MERGE. Por exemplo, sabemos que MERGE gerou, na frase de nossa ilustração, o predicado [amar + Maria]. Agora MERGE é capaz de combinar esse objeto complexo com outro item lexical, por meio da composição [João] + [amar + Maria].









Poderíamos seguir aplicando MERGE indefinidamente, de maneira a construir objetos cada vez mais complexos, como as orações coordenadas e subordinadas.

  • Move - é uma forma especial de aplicação de MERGE. A especificidade de MOVE é que, nessa operação, um objeto complexo já formado no espaço derivacional é deslocado de uma posição para outra dentro da representação que está sendo construída. Muitas vezes, fazemos referência a MOVE com a expressão Regra de Movimento. Falamos em “movimento” porque a essência da operação MOVE é o deslocamento de um objeto entre diferentes posições sintáticas numa frase, tal como se ele tivesse sido movido. Trata-se de uma operação muito importante, responsável pela elaboração de vários tipos de representação sintática complexa, como voz passiva, oração relativa, topicalização etc.

Posição original do objeto: Você leu [que livro]?
Move, deslocamento do objeto para posição sintática mais distante: [Que livro] você leu?

  • Spell-out - é a operação que retira a derivação em curso do Sistema Computacional e a envia para FF e FL. Essa operação funciona como uma espécie de supervisor, cuja função é identificar quando uma derivação já se encontra ao ponto de ser enviada para os sistemas que mais diretamente lidam com as interfaces. SPELL-OUT é, por assim dizer, o momento em que a derivação é dividida em duas partes, aquela referente a , que será remetida a FF, e a referente a , que seguirá para LF. Em FF e LF, a derivação de representações linguísticas segue em frente, até que esteja concluída e possa ser fi nalmente entregue aos sistemas de interface.


  1. Forma Fonética e Forma Lógica

São os componentes finais da arquitetura da linguagem humana. Sua característica fundamental é fazer a intermediação entre as representações geradas pelo Sistema Computacional e as interfaces articulatório-perceptual e conceitual-intencional. Mantém contato imediato com outros sistemas cognitivos humanos, entregando-lhes diretamente as representações do par (, ).
Enquanto FF é o componente dedicado à organização das informações sobre som (ou sinais, nas línguas de surdos), LF é o componente lógico da arquitetura da linguagem. Para Chomsky, esses dois sistemas em contato com suas interfaces equivalem à descrição moderna, no âmbito das ciências cognitivas, da díade som e significado, presente nos estudos da linguagem desde a antiguidade.
Se FF e LF terminam o trabalho da fábrica da linguagem, o trabalho das outras funções cognitivas humanas está apenas começando. É com base nas representações do par (, ) que nossas mentes criarão o discurso, em suas infindáveis maneiras de manifestação comunicativa.