Professores Ivo da Costa do Rosário e Mariangela Rios de Oliveira
1) Sujeito: Termo Essencial?
A classificação do sujeito como essencial, conforme recomendação da NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira, documento oficial que normatizou e simplificou a gramática do português), encontra-se em Cunha e Cintra (2001), Kury (2003) e Luft (2002), por exemplo.
A oração é formada por dois sintagmas fundamentais, ambos com o mesmo grau de relevância – o sintagma nominal (SN) na função de sujeito e o sintagma verbal (SV) na função de predicado.
Por exemplo: (1) Aquela nossa amiga não disse uma palavra.
Autores como Rocha Lima (1999 - “a oração consta de dois termos”) e Bechara (1999 - “grupo natural”) não negam a relevância da função sintática sujeito, porém destacam a ocorrência de orações nas quais é possível a não ocorrência desse termo. O mesmo faz Azeredo (1995, p. 45), que nomeia o sujeito como um dos “dois constituintes centrais” da oração.
É preciso repensar e redefinir o rótulo essencial, atribuído oficialmente pela NGB, constituindo estratégias mais adequadas e viáveis para descrever e analisar o papel do sujeito na língua portuguesa. Em relação à totalidade das orações do português, o rótulo essencial deve ser assumido como central ou básico, por exemplo, e não tomado como propriedade de todas as orações.
Por exemplo: (2) Choveu torrencialmente na noite de ontem.
(3) Há cinco rapazes na sala.
Segundo os gramáticos da língua portuguesa, os exemplos (2) e (3) representam dois casos de oração sem sujeito. Portanto, se assim consideramos a situação, devemos concluir que o sujeito nem sempre é essencial.
2) Definindo Sujeito
A grande maioria das gramáticas do português define o sujeito pelo viés semântico, ou seja, pelo sentido que, em geral, essa função sintática expressa:
a) Cunha e Cintra (2001, p. 119): “O SUJEITO é o ser sobre o qual se faz uma declaração.”
b) Rocha Lima (1999, p. 205): “Sujeito: o ser de quem se diz algo.”
c) Luft (2002, p. 23): “Sujeito – ser de quem se diz alguma coisa – é o elemento com o qual concorda o verbo”. O critério semântico (“o ser”) e o morfológico (“com o qual o verbo concorda”) são usados para a definição do sujeito.
d) Segundo outro critério, o sintático, o sujeito tende a vir antes do predicado e, em geral, ocupa o primeiro lugar na oração, como ocorre em (a) – Maurício ganhou um prêmio na França. Por vezes, o critério sintático tem papel fundamental na identificação do sujeito, como o único meio capaz de cumprir esta tarefa, na impossibilidade de aplicação dos demais critérios, através de sua ordenação na estrutura oracional (Por exemplo: “O professor é americano” e “O americano é professor”).
Assim, podemos resumir:
Critério
de Classificação
|
Tipo
de Sujeito
|
Semântico
|
Ser
sobre o qual se faz uma declaração
|
Morfológico
|
Termo
com o qual o verbo concorda
|
Sintático
|
Termo
que ocupa a primeira posição na oração
|
A aplicação de apenas um critério, como fazem muitos autores de livros didáticos e alguns gramáticos, pode nos levar a equívocos. Devemos conjugar os três critérios e considerá-los como definidores da noção de sujeito. Em outras palavras, dizemos que sujeito é um termo que pode ser caracterizado pelos três critérios apresentados, mas não necessariamente aplicados de modo simultâneo. Quando o sujeito obedece aos três critérios é chamado de sujeito prototípico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário