Professores Igor Graciano e André Dias
1) Diferenciando História de Historiografia (Literatura Brasileira)
Segundo Roberto Acízelo, em sua obra Introdução à Historiografia da Literatura Brasileira:
a) História da Literatura (visão histórico-cultural) pode ser compreendida como “o fenômeno constituído pelos desdobramentos e transformações no tempo de uma entidade chamada Literatura Brasileira” (p. 10), ou seja: devemos ter em mente que estamos lidando com o segmento dos estudos literários que concentra suas preocupações em apresentar as origens e o desenvolvimento da Literatura nacional;
b) Historiografia da Literatura (perspectiva da individualidade estética) designa “o corpo de obras consagradas ao estudo desse fenômeno” (p. 10) , ou seja: corresponde ao esforço dos mais variados grupos de estudiosos da área literária que buscaram e, ainda hoje, buscam construir trabalhos de natureza crítica e teórica sobre o tema.
2) Por uma concepção de História da Literatura Brasileira
Quadro Sinótico em duas grandes eras:
a) Era Colonial, que procura abarcar as manifestações literárias ocorridas durante o período colonial brasileiro, contendo os períodos literários designados como: Quinhentismo, Barroco e Arcadismo.
b) Era Nacional, que busca acompanhar o desenvolvimento da Literatura Brasileira desde os primeiros passos hesitantes do novo país que procurava se estabelecer após a independência de Portugal até o presente, contendo os períodos: Romantismo, Realismo/Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, a fase de transição qualificada como Pré-Modernismo, o Modernismo e as chamadas tendências da Literatura contemporânea – um “guarda-chuva” que abarca as mais diversas manifestações literárias.
Obs: Pioneirismo foi o trabalho do historiador e ensaísta Francisco Adolpho de Varnhagen. Com a publicação de Épicos brasileiros (1845) e Florilégio da poesia brasileira (1851-1853), o historiador teve o mérito de ter sido “o primeiro brasileiro a empreender uma obra rigorosa e pensada de erudição e coleção de textos” (CANDIDO, 1988, p. 19).
3) Por uma concepção de Historiografia da Literatura Brasileira
O historiógrafo tem como preocupação principal lançar um olhar crítico sobre a produção literária de um determinado escritor ou sobre o trabalho de um grupo deles. Entretanto, é imprescindível compreender que todo crítico constrói seu trabalho a partir de uma fundamentação teórica, e que esta é sempre responsável por orientar e conduzir suas reflexões sobre a Literatura.
É muito importante ter em mente que as atribuições do historiador e do historiógrafo da Literatura, em muitos momentos, podem convergir sem provocar qualquer conflito de interesses: “Em um livro de crítica, mas escrito do ponto de vista histórico, como este, as obras não podem aparecer em si, na autonomia que manifestam, quando abstraímos as circunstâncias enumeradas; aparecem, por força da perspectiva escolhida, integrando em dado momento um sistema articulado e, ao influir sobre a elaboração de outras, formando, no tempo, uma tradição (CANDIDO, 1981, p. 24). “
Obs.: O crítico britânico Terry Eagleton, em sua obra Teoria da Literatura: uma introdução (1997), discorre sobre as três definições de Literatura mais recorrentes no século XX. São elas: 1) a Literatura como “escrita imaginativa”, no sentido de ficção – escrita que não é literalmente verídica; 2) Como linguagem trabalhada para causar “estranhamento”, afastando-se, assim, da linguagem comum do dia a dia; 3) como linguagem “autorreferencial”, isto é, uma linguagem que fala de si mesma.
Porém são respostas insuficientes, pois nem todos os textos considerados literários, portanto, cabem nas três definições indicadas. A conclusão a que se chega é que não há uma essência da Literatura, ou seja, uma característica ou grupo de características comuns a todas as obras que nos habilite a considerá-las como especificamente literárias. Para o teórico inglês, em sua obra Teoria da Literatura, isso “significa que podemos abandonar, de uma vez por todas, a ilusão de que a categoria ‘literatura’ é ‘objetiva’, no sentido de ser eterna e imutável”.
Se há uma divisão vigente entre textos literários e não literários, essa divisão se dá a partir de critérios historicamente construídos, de modo que um texto tido como literário hoje pode não o ser amanhã... Um bom exemplo disso é a carta de Pero Vaz de Caminha, que não sendo Literatura no momento de sua escrita, tornou-se posteriormente Literatura, pelo trabalho crítico de algumas historiografias literárias, sendo, finalmente, inserida no cânone literário como texto fundador da Literatura nacional.
Diante desses argumentos, conclui-se que qualquer definição sobre o que seja ou não Literatura é carregada de historicidade, isto é, um conjunto de critérios legitimados pelos valores de seu tempo e grupo social que “escolhem” um corpus de textos como sendo literário em detrimento de outro ou de corpus tidos como não literários. As historiografias literárias, como visto anteriormente, têm um papel fundamental na constituição desse corpus, ao qual, no nosso caso particular, chamamos de Literatura Brasileira.
“Não existe uma obra ou uma tradição literária que seja valiosa em si, a despeito do que se tenha dito, ou se venha a dizer, sobre isso. "Valor" é um termo transitivo: significa tudo aquilo que é considerado como valioso por certas pessoas em situações específicas, de acordo com critérios específicos e à luz de determinados objetivos (EAGLETON, 1997, p. 16). “
Portanto, a historiografia e seus resultados dependem do ponto de vista de quem a pratica, de modo que, assim como há diferentes opiniões individuais sobre um mesmo acontecimento, a análise crítica do conjunto de textos da Literatura Brasileira repercute os valores do grupo sociocultural a que o historiador pertence, o que torna o mar da Historiografia quase tão vasto em possibilidades quanto o da própria Literatura para a qual ela se volta.
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